Meu Anjo
Meu anjo tem o encanto, a maravilha,
Da espontânea canção dos passarinhos;
Tem os seios tão alvos, tão macios
Como o pêlo sedoso dos arminhos.
Triste de noite na janela a vejo
E de seus lábios o gemido escuto.
É leve a criatura vaporosa
Como a froixa fumaça de um charuto.
Parece até que sobre a fronte angélica
Um anjo lhe depôs coroa e nimbo...
Formosa a vejo assim entre meus sonhos
Mais bela no vapor do meu cachimbo.
Como o vinho espanhol, um beijo dela
Entorna ao sangue a luz do paraíso.
Dá morte num desdém, num beijo vida,
E celestes desmaios num sorriso!
Mas quis a minha sina que seu peito
Não batesse por mim nem um minuto,
E que ela fosse leviana e bela
Como a leve fumaça de um charuto!
Álvares de Azevedo
+++ Etecetera
Biografia de Álvares de Azevedo
segunda-feira, agosto 27, 2007
domingo, agosto 26, 2007
Carlos Nejar
O Homem e as Coisas
As coisas não se submetem
à nossa vestidura;
na máscara que somos
as coisas nos conjuram.
Por que não escutá-las,
tão sáfaras e puras,
como flores ou larvas,
estranhas criaturas?
Por que desprezá-las
no sopro que as transmuda
com os olhos de favas,
fechados na espessura?
Por que não escutá-las
na linguagem mais dura,
comprimidas as asas
na testa que as vincula?
Despimos a armadura
e a viseira diurna;
a linguagem resvala
onde as coisas se apuram.
Recônditas e escravas
na cava da palavra,
são fiandeiras escuras
ou áspides sequiosas.
As coisas não se submetem
à nossa vestidura.
Carlos Nejar
+++ Etecetera
Releituras de Carlos Nejar
Carlos Nejar, o Poeta da Condição Humana
As coisas não se submetem
à nossa vestidura;
na máscara que somos
as coisas nos conjuram.
Por que não escutá-las,
tão sáfaras e puras,
como flores ou larvas,
estranhas criaturas?
Por que desprezá-las
no sopro que as transmuda
com os olhos de favas,
fechados na espessura?
Por que não escutá-las
na linguagem mais dura,
comprimidas as asas
na testa que as vincula?
Despimos a armadura
e a viseira diurna;
a linguagem resvala
onde as coisas se apuram.
Recônditas e escravas
na cava da palavra,
são fiandeiras escuras
ou áspides sequiosas.
As coisas não se submetem
à nossa vestidura.
Carlos Nejar
+++ Etecetera
Releituras de Carlos Nejar
Carlos Nejar, o Poeta da Condição Humana
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